Hoje é o dia de vocês morrerem”, gritava um atirador na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Enquanto isso, em uma sala de aula pequena, cerca de 30 alunos, na faixa dos 13 e 14 anos, choravam tentando não fazer tanto barulho.
Da sala, viu alunos que estavam no pátio da escola gritando, desesperados. Uma das estudantes correu para se abrigar na classe de Jussara. Depois que a jovem entrou, a professora decidiu trancar a porta, mas viu que estava sem a chave. Improvisou uma barricada com a mesa dos professores, apagou as luzes e pediu que os alunos fizessem silêncio.
“Não dava tempo de buscar a chave. Fechei a porta e coloquei uma mesa, apaguei luz e pedi pra eles se abaixarem e ficarem quietos, só orando a Deus”, lembra. O tumulto lá fora continuava quando, então, os atiradores se aproximaram da sala de Jussara e forçaram a porta, que chegou a se abrir alguns centímetros. De fora, anunciavam a morte dos estudantes, em tom alto.
Os alunos, lá dentro, acuados, falavam baixinho: “eu não quero morrer hoje, Deus, me ajuda”. Ela nem sabe de onde tirou forças para impedir a entrada dos atiradores – só lembra de que, segundos depois, a porta voltou a se fechar.
Segundo Jussara, na mesma hora, outros três professores de idiomas também davam aulas e sofreram ameaças. Todos tiveram a ideia de apagar as luzes para simular que a sala estava vazia.
Jussara ouviu mais disparos e diz que o que se seguiu foi “um silêncio profundo, um silêncio de morte”. A essa altura, ela acredita que os atiradores já estavam mortos. Uma aluna ligou para a polícia, mas, nem a chegada dos agentes encorajou a professora e os alunos a deixarem a sala. Só quando um outro docente pediu que ela abrisse a porta é que finalmente os alunos saíram. “Nunca passei um medo tão grande, por mim e pelos meus alunos”, conta a professora que dá aulas no colégio há 19 anos.
O que encontraram no caminho até a portão da escola foi um cenário que ela jamais vai esquecer: os corpos de alunos e duas funcionárias no chão. “Era muito sangue, uma poça de sangue enorme.” Agora, ela não sabe se conseguirá lecionar de novo. “Não quero mais voltar pra escola. Não vou conseguir olhar para o chão e lembrar dos corpos.”
(Fonte: Noticias ao minuto)