O mestre era metódico, tão sistemático quanto a disciplina que ministrava, mas muito bem-humorado. Usava de fina ironia para provocar estudantes relapsos ou pouco atentos.
Nilson Jaime
Ontem fui dormir pensando nas duas icônicas fotografias tiradas no ano de 1964, durante aulas de Botânica que o professor emérito da UFG José Ângelo Rizzo ministrara nos píncaros da Serra Dourada, como faria todo ano, nos próximos 40 anos.
As fotos constam do álbum Jubileu de Ouro 2017 — turma de formandos de 1967 — e nelas podem ser identificados alguns alunos daqueles tempos e, depois, professores, como Domingos Tiveron Filho e Carluce Gomes de Sá e Carvalho, além do eminente catedrático.
“Amanhã farei o texto” — pensei.
Estava com o venerando mestre na mente e no coração.
Fui surpreendido nesta manhã com a notícia de falecimento do emblemático docente dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas, Ciências Ambientais e Farmácia, dentre outros.
Das fotos em questão, ele não aprovava a segunda, em que a turma de formandos de 1967, se coloca temerariamente sobre Pedra Goiana, da Serra Dourada, finalmente arruinada por um grupo de rapazes ao final daquela década.
Preferia a outra, em que os alunos se aglomeravam à sua volta, fazendo perguntas e ouvindo suas entusiásticas prédicas botânicas. Esse era seu mundo: plantas e alunos.
Conheci o professor Rizzo em 1980, cursando Botânica I e II — disciplinas obrigatórias do Curso de Agronomia —, no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Rizzo era metódico, tão sistemático quanto a disciplina que ministrava, mas muito bem-humorado. Usava de fina ironia para provocar estudantes relapsos ou pouco atentos.
Ainda sinto o cheiro das exsicatas de plantas, no herbário do ICB. Posso vê-lo, pedagógico, entre as “canelas de emas” e “arnicas” centenárias do Parque Estadual da Serra Dourada, uma de suas criações, ao qual exerceu abnegada curadoria por toda a vida.
Quase quarenta anos depois, ainda sinto o cheiro da naftalina, vaporizada pelas lâmpadas das câmaras de prensagem; e ouço-o discorrer sobre dezenas de plantas, uma a uma, descrevendo suas características botânicas.
Duas delas eternizarão a memória do eminente professor — “Tassadia rizzoania” e “Pilosocercus rizzoianus” — receberam nomes latinizados em homenagem ao saudoso mestre da botânica.
José Angelo Rizzo era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goias (IHGG), cadeira 34, patronímico de Amália Hermano Teixeira.
Uma biografia do professor de mais de 50 turmas de engenheiros agrônomos estará no livro “Estrela do Cerrado — A Escola de Agronomia da UFG”, em construção.
À família enlutada, as condolências de quase 3 mil de seus alunos agrônomos.
Nilson Jaime é engenheiro agrônomo com doutorado pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Nota do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG
É com pesar que comunicamos o falecimento do professor-doutor Angelo Rizzo. Sua trajetória acadêmica foi marcada pelas grandes contribuições científicas à área da Botânica. Foi chefe do Departamento de Botânica do ICB-UFG; fundador da Sociedade Ecológica do Centro-Oeste; teve participação ativa na criação do Herbário da UFG, Jardim Botânico de Goiânia, Bosque August Saint-Hilaire, Reserva Biológica de Serra Dourada e da UFG.
Na pesquisa foi um expoente na área da Botânica e deu importantes contribuições científicas sobre a flora goiana. Seus trabalhos possuem reconhecimento em território nacional e internacional. Em 2014, durante XI Congresso Latino-Americano de Botânica, o LXV Congresso Nacional de Botânica e o XXXIV Erbot, o professor Rizzo recebeu a Medalha de Mérito em Botânica em reconhecimento às suas contribuições para o desenvolvimento da Botânica no Brasil. Em 2016, foi condecorado com o título de Professor Emérito da Universidade Federal de Goiás. A comunidade científica da botânica e o Instituto de Ciências Biológicas sentem muito por essa irreparável perda. Nossos sentimentos aos familiares, amigos, colegas de trabalho e alunos. (Fonte; Jornal Opção)