O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, chegou à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, para prestar depoimento ao delegado Igor Romário de Paula e à Procuradoria-Geral da República. O ex-juiz responsável pela Operação Lava Jato entrou pelos fundos, em veículo preto e não falou com jornalistas. A oitiva começou pouco depois do horário marcado, por volta das 14h20. Na frente do local, grupos de apoiadores seus e do presidente Jair Bolsonaro fazem atos de protesto. Houve troca de insultos e princípio de confusão: um manifestante chegou a ser expulso após hostilizar o câmera de uma equipe de TV.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, relator do processo que investiga Moro e Bolsonaro na Corte determinou na quinta-feira que o primeiro prestasse depoimento. Ao anunciar a saída do cargo do governo, Moro acusou o chefe de Estado de tentar interferir politicamente no comando da Polícia Federal para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de inteligência. “O presidente me quer fora do cargo”, disse.
Na ocasião, o ex-magistrado falou com a imprensa após Bolsonaro formalizar o desligamento de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal – o ministro frisou que não assinou a exoneração do colega. Segundo Moro, embora o documento de exoneração conste que Valeixo saiu do cargo “a pedido”, o diretor-geral não queria deixar o cargo. O próprio Moro, que aparece assinando a exoneração, afirmou que foi pego de surpresa pelo ato e negou que o tenha assinado. “Fiquei sabendo pelo Diário Oficial, não assinei esse decreto”, disse o ministro, que considerou o ato “ofensivo”.
“O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser preservadas. Imagina se na Lava Jato, um ministro ou então a presidente Dilma ou o ex-presidente (Lula) ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações”, disse Moro, ao comentar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF.
Na avaliação de Moro, a interferência política pode levar a “relações impróprias” entre o diretor da PF e o presidente da República. “Não posso concordar. Não tenho como continuar (no ministério) sem condições de trabalho e sem preservar autonomia da PF. O presidente me quer fora do cargo”, acrescentou o ministro.
Ministro do STF barra nomeação à direção da PF
No dia 29 de março, em decisão liminar, o ministro do STF Alexandre de Moraes suspendeu a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a direção da Polícia Federal por “desvio de finalidade”. A Advocacia-Geral da União informou que não iria recorrer da liminar, mas, duas horas depois, o presidente Jair Bolsonaro a desautorizou e disse que tentará reverter a decisão.
Fonte:Correio do Povo