O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (20) que a situação no Ceará é de "guerra urbana" e que, com a chegada de militares ao estado, "o bicho vai pegar".
Bolsonaro deu as declarações em uma transmissão ao vivo em uma rede social. Mais cedo, nesta quinta, o presidente assinou um decreto no qual autorizou o envio de tropas das Forças Armadas ao Ceará para reforçar a segurança pública no estado.
O Ceará enfrenta uma crise na segurança em meio a um motim de policiais militares. A categoria se diz insatisfeita com a proposta de reajuste salarial apresentada pelo governo local.
"O pessoal que está cometendo delitos, crimes nessas regiões, onde, por um motivo qualquer, por um motivo justo, estão indo as Forças Armadas para lá – tem que entender que o pessoal verde está chegando, e o bicho vai pegar.
Porque, se é para tratar com flor essa galera, não fiquem enchendo nosso saco e vão pedir para outras instituições para cumprir esta missão", afirmou Bolsonaro na transmissão ao vivo.
"Isso é coisa de responsabilidade, coisa séria. Se estamos em guerra urbana, temos que mandar gente para lá para resolver esse problema."
Nesta quinta, homens encapuzados cercaram policiais civis e tomaram a viatura em Fortaleza. Na quarta, homens também encapuzados em um carro da PM deram ordem a comerciantes para que fechassem as portas de estabelecimentos na cidade de Sobral.
'Excludente de ilicitude'
Na transmissão ao vivo, Bolsonaro voltou a defender a chamada excludente de ilicitude, isto é, a situação em que militares ficarão isentos de punição.
No ano passado, o governo enviou um projeto ao Congresso que permite a excludente de ilicitude em caso de decretos de Garantia da Lei e da Ordem, como o assinado pelo presidente nesta quinta-feira.
Segundo Bolsonaro, ele irá procurar os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para propor a votação do projeto.
"Tenho conversado com a Câmara e com o Senado e, acabando o carnaval, vou procurar o Alcolumbre e o Maia e fazer um pedido para eles porque tenho um projeto lá dentro dizendo que, em GLO, os militares têm que ter excludente de ilicitude. Ou seja, acabou a missão, ele [militar] vai para casa", afirmou o presidente na rede social.
Bolsonaro declarou ainda que será o responsável pelos militares que atuarão no Ceará.
Resumo
- Em 5 de dezembro, policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
- Em 31 de janeiro, o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
- Em 6 de fevereiro, data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
- Em 13 de fevereiro, o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
- Em 14 de fevereiro, o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
- Em 17 de fevereiro, a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
- Em 18 de fevereiro, três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
- Em 19 de fevereiro, batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados por grupos de pessoas encapuzadas e mascaradas. Em Sobral, homens encapuzados em carro da PM ordenaram que comerciantes fechassem as portas.
- Também em 19 de fevereiro, o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado em um motim de policiais em Sobral. Quando foi atingido, ele tentava furar, com uma retroescavadeira, um bloqueio em um batalhão. No mesmo dia, o Governo Federal autorizou o envio de tropas da Força Nacional de Segurança ao Ceará.
- Em 20 de fevereiro, a Secretaria da Segurança divulgou que mais de 300 militares são investigados por motins no Ceará. No mesmo dia, o Governo federal autorizou o uso das Forças Armadas na segurança do Ceará.
De acordo com a Secretaria de Segurança do Ceará, mais de 300 policiais militares do estado já respondem a Inquérito Policial Militar (IPM) e a processos disciplinares por envolvimento no movimento.